Delma Maiochi delmaiochi@hotmail.com
Poços de Caldas, MG – Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma variante de preocupação (variant of concern-VOC), a Ômicron deixou o mundo todo em estado de alerta desde seu aparecimento. Estudos estão sendo realizados diariamente com o objetivo de fornecer mais informações sobre a transmissão, sintomas e diagnóstico. O professor e pesquisador Dr. Sinézio Inácio da Silva Junior, que atua na Unifal, conversou com o Mantiqueira e deu esclarecimentos sobre o assunto. “A grande preocupação em qualquer processo epidêmico é quando o agente causador, no caso da covid-19 é o vírus Sars-Cov-2, pode sofrer mutações que façam com que ele fique mais transmissível e possa resistir a defesas imunológicas criadas pelas vacinas que estão sendo aplicadas e pela defesa desenvolvida pelas pessoas que já tiveram a doença. Neste aspecto, esses dois itens estão contidos no potencial para maior transmissibilidade da variante Ômicron, ou seja, ela se especializou em se ligar mais e melhor nas nossas células, entrar mais facilmente, se replicar mais facilmente dentro das nossas células, a partir de uma carga viral, de uma quantidade de vírus, menor do que acontecia com as variantes anteriores. E ela provoca também, tudo indica, uma carga viral maior quando se multiplica no organismo da pessoa”, diz Silva Junior.
Vacinas e estudos O pesquisador lembra que as vacinas continuam sendo muito importantes diante desta nova variante. “Porém, agora são necessárias mais doses. Para que a gente consiga ter melhor resultado contra essa variante, é fundamental tomar a dose de reforço. Inclusive alguns países já estão aplicando corretamente a quarta dose de reforço. E, naturalmente, isso já é esperado, vamos ter que desenvolver uma nova geração de vacinas que considere essas últimas variantes, como, por exemplo, a própria Ômicron. Existe também uma grande discussão se a Ômicron está causando casos mais leves do que as anteriores e aí a gente precisa ter alguns cuidados porque embora essa variante consiga driblar um pouco mais as vacinas, as pessoas vacinadas, sem dúvida nenhuma, se forem contaminadas, vão ter uma evolução do seu caso de uma maneira muito menos grave do que aconteceria se não fosse imunizada. Então, nesse sentido, uma das explicações possíveis da Ômicron não estar gerando ainda casos muito graves que levem a número de internações na mesma proporção que acontecia com as variantes Delta e Gama é também porque ela está encontrando uma população com sua maioria vacinada com as duas doses. Agora, outra explicação que ainda está para ser confirmada, é que a Ômicron não produziria aqueles sintomas ligados à invasão do trato respiratório inferior, ou seja, o tecido pulmonar. Ela ficaria mais restrita ao trato respiratório superior, nariz, boca, garganta, traqueia”, explica ele. O professor relata ainda que estudos feitos em animais de laboratório mostraram que essa variante não invade o trato inferior na mesma intensidade. “E como a maior parte das mortes tem sido causada por afetar os pulmões, podemos ficar um pouco mais otimistas. Porém, ainda temos que confirmar o que acontecerá com grandes populações de humanos. O tempo ainda vai mostrar o que realmente acontece com a variante Ômicron quando ela se instala em pessoas vacinadas e não vacinadas, jovens vacinados e não vacinados, pessoas de idade vacinadas e não vacinadas. Então, por princípio de precaução, de modo nenhum, nós podemos baixar a guarda”, pontua.
Transmissão Silva Junior ainda lembra que a Ômicron é quatro vezes mais transmissível que a Delta, que, por sua vez, já era considerada duas vezes mais transmissível que a Gama. “Quando a gente começa a olhar os números que estão chegando, percebemos que em nenhum momento da pandemia houve um aumento do número de casos de um dia para o outro tão grande quanto está acontecendo agora em termos de covid-19. Isso indica que a contaminação pela variante Ômicron pode se dar a partir de uma quantidade de vírus muito pequena que chega na pessoa. Então, mesmo usando máscara, mas de forma incorreta, com aquela frestinha que fica, ainda que em ambiente aberto, mas com pessoas espirrando, tossindo, falando muito perto, uma carga de vírus pequena já é suficiente para a Ômicron se reproduzir no organismo do novo hospedeiro. Por que a variante Ômicron surgiu? Porque nós ainda não vencemos a pandemia, estamos tendo um grande número de casos. E quanto maior o número de casos maior a chance de acontecer o surgimento de outras variantes. Então, precisamos acelerar a vacinação”, alerta ele. O pesquisador diz que o público não vacinado e mais vulnerável no momento são as crianças. E a Ômicron tem atingido essa parcela da população. “Embora as crianças, de modo geral, não produzam casos muito graves, elas podem ajudar a propagar esse vírus através de avós, tios, pais mais velhos, que cuidam ou vivem em contato com esses menores. Portanto, é fundamental vacinar as crianças”.
Combate O professor Silva Junior diz que uma epidemia é contida quando a gente evita o número de novos casos. “O uso da máscara nunca foi tão importante, associado à vacinação. Mas, usar a máscara corretamente, não ter vergonha de usar máscara. A vergonha é permitimos que essa doença continue nos afetando, matando adultos e crianças. São mortes absolutamente evitáveis, porque para a covid-19 nós já temos vacina. Então, temos que deixar de lado esses preconceitos, esses fanatismos políticos e ideológicos e agir como uma grande comunidade. Estamos vivendo um problema coletivo, que é uma pandemia, e só o esforço coletivo pode e vai resolver essa situação. A Ômicron é mais um capítulo na história dessa pandemia, é muito cedo para dizer o quanto pode melhorar ou piorar, mas o fato é que o ritmo do contágio nunca esteve tão alto como agora. Felizmente, já temos vacina, que precisa ser aprimorada, mas sem a qual estaríamos vivendo uma situação muito mais dramática”, finaliza o pesquisador.
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