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Foto do escritorJornal Mantiqueira

“Não se transforma pandemia em endemia por decreto”, diz pesquisador


Poços de Caldas, MG – Pandemia é a palavra mais utilizada há pelo menos três anos em todo o Planeta. Uma doença se torna pandêmica quando uma epidemia atinge proporções mundiais, disseminando-se em diversos países e afetando grande número de pessoas. Quem determina se uma enfermidade é ameaça global é a Organização Mundial de Saúde (OMS). Agora, a palavra que começa a tomar conta dos noticiários é endemia, o que poderia significar que a pandemia estaria em níveis controlados. Mas, não há consenso entre especialistas para dizer quando os países chegariam a essa conclusão.

A endemia é uma doença que atua localmente, se manifesta com frequência em determinada região ao longo de todo o tempo e tem um número de casos esperado, com um padrão que prevalece.

O pesquisador da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), professor Dr. Sinézio Inácio da Silva Junior, um dos responsáveis pelos boletins informativos sobre a covid-19, diz que para ser endêmica a atuação essa doença ainda necessita de mais estudos e observações.

“Transformar a pandemia em endemia não se faz por decreto ou lei. O que pode ser feito é modificar ou revogar a Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional [Espin], declarada pelo Governo Federal em fevereiro de 2020. Mas, alterações na Espin dependerão de considerarmos, por exemplo, se é pandemia ou endemia e isso necessita de critérios. O primeiro deles seria, a partir da variação sazonal da doença e de períodos não epidêmicos, fazer cálculos e tecnicamente definir se a doença é endêmica. Infelizmente, com a covid-19 isso não é exatamente possível, pois ela surgiu há apenas dois anos e manteve-se como epidêmica no período”, explica Silva Junior

Ele salienta que o modo mais simples para chegar a um consenso sobre endemia seria observar se o número de novos casos se mantém constante ao longo do tempo.

“Porém, os casos ainda não voltaram a um patamar constante, pois permanecem caindo. Portanto, embora pareça contraditório, é prematuro classificar a covid-19 como endêmica. Quer dizer, é importante manter essa queda até o número de novos casos ficar constante, preferencialmente em nível muito baixo. Mas, o que seria um número baixo? Para preservar ao máximo a saúde pública, podemos ter dois parâmetros: a covid-19 comparada com ela mesma e ela comparada com as principais doenças infecciosas e transmissíveis que temos como endêmicas, como Aids, tuberculose, dengue e gripe. Comparando com ela mesma, e tomando por exemplo o mês de dezembro de 2021, antes da escala da ômicron, o sul de Minas teve em média 60 novos casos e uma morte por dia. Esta semana, iniciada em 28 de março, houve uma média de 384 novos casos e três mortes por dia. Hoje o Brasil registra em torno de 30 mil novos casos e 230 óbitos de covid-19 por dia. Em 2019, no Brasil, a Aids produziu em média 102 casos e 24 mortes por dia; a tuberculose 202 casos e 12 mortes; a dengue 4.291 casos e duas mortes e a gripe 15 casos e três mortes. Somando todas essas doenças, que são endêmicas no Brasil, em 2019, por dia elas causaram 4.623 casos e 41 óbitos e a covid-19 hoje, sozinha, causa seis vezes mais casos e mortes por dia do que as mais mortais doenças infecciosas endêmicas do Brasil. Essa é a endemia que queremos?”, finaliza o pesquisador. Se a reclassificação da covid-19 for confirmada no Brasil, a medida irá de encontro às orientações da OMS, que ainda a considera uma pandemia. Quando a doença passar a ser acatada como endêmica, ela poderá deixar de ser tratada como emergência de saúde, portanto, as restrições atuais, como uso de máscara, álcool em gel, proibição de aglomeração, exigência de passaporte vacinal, entre outros protocolos, não serão mais obrigatórios.

Delma Maiochi

delmaiochi@hotmail.com

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